Ah minha doce e lânguida Hildegard. Minha púbere donzela, de cabelos cor de vime. Seus lábios tão jocosos, tão ressequidos, me lembram daquelas castas tardes de inverno, onde fazíamos nossas elucubrações sobre o mundo, as esfinges, os piratas saqueadores. Nossas mentes inférteis, inférteis como teu ventre, minha sonhadora Hildegard! Sinto falta de seus pêlos púbicos, despontando a aurora diante de minha face. Teu rosto solene e extremamente desolador, como nossos pesadelos, que em outros momentos transgrediam nossa realidade. Nossa vida, feita dessas intempéries malditas. Nossos momentos de explosão. Hildegard, tão selvagem, tão cruel e tão santa! Hildegard de minhas ilusões, de meus tormentos, de minhas volúpias, tenras e fetichistas, que se emaranhavam em tuas pústulas, ululantes, descabidas, geradas em mim e para mim. Hildegard: tu eras meu sopro de vida, tu eras minha porcentagem de viço nesse mundo vil. Hildegard, nunca alguém te entendeu como eu, nunca alguém te desejou como eu. Hildegard, nós éramos uno, num torpor maledicente, nessa metamorfose entranhosa, nesse circo de horrores que nós criamos e amávamos! Nossa vida era composta de fulgor, Hildegard. Preciso dessa luz, minha querida, é com sua luz amálgama que vivo e crio. Volte, Hildegard, para dentro de meu peito, ainda temos muito o que constatar.
Com amor, seu servo criador.